quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Tempo


Quanto tempo a Natureza leva para fazer um cãozinho? Pois é. Um carro, no entanto, leva menos de um minuto para acabar com a vida de um, seja ele pequeno ou grande. Eu estava subindo a rua Gávea, em Belo Horizonte, hoje, dia 14 de dezembro, por volta de 14 horas, quando um carro, que estava à frente do meu, deu uma guinada para a esquerda e até cantou pneu. Eu cheguei a ouvir o grito. Na hora nem me deu conta, mas em seguida percebi o fato. Um cachorrinho preto, acho que um filhote, vira-lata, estava estirado no meio da rua, e tremia o corpo todo. Não gritava, mas seus olhos denunciavam a tragédia. Havia tristeza naqueles olhos. Estava morto. O carro seguiu o seu caminho e foi possível ver que o motorista ria e apontava para o cãozinho, como se fora para ele um troféu.
Uma vida foi ceifada em menos de um minuto. Um indivíduo ria de prazer por ter tirado aquela vida inocente. Eu assisti a cena. Qual o sentido disso?um trofa para o clata, estava estirado no meio da rua, e tremia o corpo todo.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Há certas coisas que acontecem que quem vê finge que é cego. Outros não vêem porque não vêem nada mesmo. Outros ainda vêem e não podem dizer nada, pois para dizer é preciso ter provas e, às vezes, quem faz certas coisas, faz exatamente porque confia em certas proteções, como nome, antiguidade no cargo, uma certa situação e outras mil situações, sempre muito convenientes. Mas, não é possível que ninguém tenha visto, isto é, alguém que tem a responsabilidade de cuidar da coisa pública e da permanência do caráter republicano das instituições universitárias. Uma pós-graduação. Uma linha de pesquisa. De repente, ninguém que se candidate a essa linha consegue passar nas provas. Dentro do departamento, há uma campanha velada para acabar com a linha de pesquisa. Mas o movimento é velado. Talvez não possa confessar publicamente suas intenções. Por isso é velado. As vagas são oferecidas. Os candidatos aparecem. Mas nenhum passa. São barrados de forma conveniente, pois os concursos são feitos de modo a ser possível barrar quem os poderosos de plantão quiserem. Mas há a tia que favorece a sobrinha, orientando-a a fazer o concurso para uma outra linha de pesquisa. Há o professor que não oferece vagas para orientação. Há o processo que é viciado, mas que é repetido todos os anos, como se fosse algo sério. As pessoas se mobilizam, formam bancas, reúnem-se, corrigem provas, dão notas. Ao final, passam aqueles que foram escolhidos antes das provas, aqueles que são convenientes às políticas dos poderosos de plantão. Muitos desses poderosos não passam de preguiçosos que adoram passar as aulas para alunos/orientandos e vão passear durante o ano letivo. Na verdade, há de tudo, dá de tudo. Muita gente vê, mas são cegos. Outros são cegos, mas vêem. Mas tudo fica como está. As aulas continuam, e a pós-graduação permanece com nota alta no CNPq e na CAPES. Não há república, mas apenas os interesses baixos e paroquiais de uns poucos que se arvoram em poderosos de plantão. O ensino, bem o ensino....

sábado, 5 de novembro de 2011


Redes Sociais – Mitos e Verdades

As redes sociais têm sido louvadas como uma revolução no relacionamento humano  - um relacionamento virtual e que tem um sabor insosso, pois sem contato físico – mas um relacionamento que abole distâncias e muitos obstáculos. Também, as redes sociais prometem muito: desde progressos no relacionamento humano até facilidades no relacionamento profissional. Ocorre que muitas vezes as dificuldades de relacionamento na vida comum são reproduzidas no relacionamento virtual. Há a dificuldade da língua; a dificuldade da compreensão básica do mundo (muitas vezes a comunicação não se estabelece porque um não consegue entender o outro, pois ambos têm pressupostos completamente diferentes); há dificuldades de adaptação aos modelos de comunicação e de modelos de subjetividade. Tanto é assim que as redes são usadas principalmente como entretenimento passageiro e não para relacionamentos mais profundos e duradouros, pois nunca sabemos ao certo o que significa para o outro o “meu costume de fazer isso ou aquilo”. A preocupação com a privacidade tem por isso aumentado. As pessoas estão preferindo não dizer muito de si.
De qualquer modo, as redes vieram para ficar. Se, antigamente, as pessoas criavam oportunidades de relacionamento andando em círculos em um jardim em forma de praça, sendo que os rapazes andavam no sentido horário e as moças no sentido anti-horário, hoje em dia as oportunidades são criadas em um clic virtual, no qual você pode conhecer milhares de pessoas nas mais diferentes partes do mundo. Com essa amplitude, é claro que a rede passa a servir não apenas para entretenimento, mas também para fazer negócios, propaganda de produtos e fazer fofocas, entre muitas outras coisas. As redes ampliam as possibilidades de relacionamentos. Isso é verdadeiro. O que precisa ser perguntado é se essa forma de relacionamento satisfaz humanamente, se ela deve ser incentivada como a melhor forma de relacionamento humano, ou se é necessário questioná-la e procurar descobrir problemas ou questões que precisam ou merecem ser pensadas. As redes sociais, sem dúvida, promovem a aproximação das pessoas. Mas essa é uma forma de aproximação apenas parcial, pois virtual. Se a rede servir para promover apenas essa aproximação parcial, o que devemos esperar do relacionamento humano no futuro?

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A ONU está pedindo uma investigação sobre as circunstâncias da prisão e morte de Kaddafi nas mãos dos fanáticos que o perseguiam. Não consigo entender o por que do pedido. As imagens divulgadas sobre os maus tratos que o ditador assassinado sofreu são claras demais e não admitem dúvidas. Kaddafi foi preso, torturado e depois executado por um bando de fanáticos, bando que não obedece ninguém e sobre o qual o tal governo provisório não tem nenhum controle. O fim trágico do ditador deposto marca o inglório começo de um governo cheio de disputas e fanáticos. Tristes tempos estes! A barbárie sendo patrocinada por todos a favor de uns poucos que vão se locupletar de petrodólares e continuar distribuir armas e corrupção pelo mundo afora. Sai Kaddafi, assassinado. Quem vai entrar? Ganha um doce quem adivinhar!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Barbárie!

O arremedo de governo provisório da Líbia mal consegue resolver se sepulta ou não o corpo do ditador assassinado por fanáticos que o perseguiam, com a ajuda da OTAN. Kaddafi foi derrubado do poder pela OTAN, com a ajuda quase supérflua de grupos de fanáticos que devem estar a soldo de alguma organização que não apareceu até agora e nem vai aparecer jamais. Parece surrealista a declaração de Obama de que a morte de Kaddafi é o princípio da democracia na Líbia. A não ser que os conceitos políticos estejam completamente mudados, não me parece que barbárie possa inaugurar o regime democrático. Kaddafi foi tratado como um cão raivoso pelos fanáticos que o perseguiam e são essas pessoas que estão armadas na Líbia para formar um novo governo. Esperar que eles se sentem à mesa para dialogar, civilizadamente, me parece um pouco esperançoso em demasia. Agora é o mais forte devorar o mais fraco e impor a sua supremacia e assim continuar o governo, aliás, como o coronel Kaddafi fazia. Só mudou o tipo de rato. Acredito que seria diferente se a prisão de Kaddafi não tivesse resultado em sua execução sumária e bárbara, como aconteceu. Um governo inaugurado na violência não construirá nada de novo. Apenas renovará a violência antiga. Uma coisa, no entanto, é certa. Os contratos milionários para a exploração do petróleo líbio por empresas ocidentais, que Kaddafi tanto atrapalhava, já devem estar prontos. É só aguardar para ver.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

ATENÇÃO

Não tenhamos ilusões! As elites políticas que dominam este país e que são extremamente corruptas vão tentar derrubar Dilma do governo. Ela tem se mostrado muito dura com os corruptos e está tentando mudar o estilo de fazer política: sem a barganha de votos por cargos, que deputados e senadores, despudoradamente, chamam de condições de governabilidade. Chega de engodo e enganações descabeladas. Se for necessário, vamos às ruas para que Dilma possa vencer a corrupção e colocar o Brasil num patamar político que transcenda a República das bananas.
Não tenhamos ilusões! Logo, logo vai começar a campanha para derrubar Dilma. Fiquemos atentos!!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Casos sem honra.

A Pastoral da Terra está denunciando que um certo juiz, em Marabá, no Pará, estaria protegendo um grupo de suspeitos da morte de um casal de ativistas políticos, que ocorreu recentemente. Há também o caso de uma juíza no Mato Grosso do Sul que suspendeu uma operação da  fiscalização do Ministério do Trabalho e da polícia federal de libertação de um grupo de pessoas que estavam sendo mantidos como escravos em uma propriedade.
Casos como esses denigrem a imagem do país como nação civilizada e mancham a honra do Estado. Será que não existe no Brasil instância judiciária superior que poderia sustar crimes como esses? Ou será que decisão de um juiz é algo sagrado, que ninguém pode modificar?
Ora, um juiz deve ser considerado inocente, como qualquer outro cidadão até prova em contrário. Mas, diante de certos abusos, a Justiça deveria intervir, pois não é preciso ser jurista para sentir o cheiro da corrupção em certos casos. 
No Rio, o caso da morte do menino Juan põe a nu o quanto a polícia protege verdadeiros bandidos em sua composição. Uma pessoa com uma ficha como a de um dos envolvidos no caso citado não é um faltoso primário. Não é possível que ninguém soubesse desse comportamento impróprio desse indivíduo. 
O problema é que quando se tolera uma impunidade mesmo que pouco significativa, aos poucos ele se torna algo por demais violento e incontrolável. 
Será que ainda há lugar para honra nesse país?

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Civilização e barbárie


A coluna de Leonardo Sakamoto, do UOL, publica matéria sobre a ação de uma juíza do Distrito Federal e diz “A juíza Marli Lopes Nogueira, da 20ª Vara do Trabalho do Distrito Federal, atendeu a um pedido de liminar em mandado de segurança movido pela Infinity Agrícola suspendendo um resgate de trabalhadores em condição análoga à de escravo em uma fazenda de cana no município de Naviraí, Estado do Mato Grosso do Sul. O grupo móvel de fiscalização, composto por auditores do trabalho, procurador do trabalho e policiais federais, estavam retirando 817 pessoas – das quais 542 migrantes de Minas Gerais e Pernambuco e 275 indígenas de diversas etnias – por estarem submetidas a condições degradantes de serviço quando veio a surpreendente decisão da juíza”.
Não é surpreendente pois se trata de fato ocorrido no Brasil, onde os grandes sempre podem fazer alguma coisa em prol de si mesmos, ao arrepio da lei e da ordem.
Esse caso deveria ser corrigido por instâncias mais gabaritadas da Justiça e se houver algum ato ilícito em tudo isso, a punição deveria ser exemplar. Porém, no Brasil a barbárie vige enquanto a civilização espera por dias melhores. Acho que isso não tem conserto à vista. Teremos de penar por mais uns 200 anos na barbárie para só então entrar mos em outro patamar civilizatório.
No caso da juíza Marli o equívoco é tão claro e transparente que se fica a pensar em ação dolosa, ou então, o sentido comum das coisas não valem mais, isto é, quando falo água isto quer dizer fogo ou qualquer outro sentido que qualquer um queira dar.
Na verdade, se a Marli tem razão, todo o resto do mundo está louco; nenhum valor vige. Acho que a juíza faria melhor se instaurasse, a começar por Mato Grosso do Sul, a escravidão no país. Ela declararia sem efeito a Lei Áurea e aboliria o trabalho livre, digamos, para todas as pessoas com renda inferior a 3 salários mínimos. Essas pessoas seria declaradas “escravos naturais” e poderia ser exploradas por qualquer grande empresa.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

E la nave va....

A oposição tem um papel de grande importância no funcionamento da democracia liberal, modelo de democracia que tem tido algum êxito no mundo ocidental. Porém, o papel da oposição deve ser o de fiscalizar o funcionamento do executivo e suas ações, além, é claro, de buscar o aprimoramento das leis do país. A oposição precisa ser feita nesse sentido e não contra o Estado ou contra os interesses da população em geral. É fato que nas democracia atuais quase sempre o papel da oposição se confunde com a defesa dos interesses partidários da própria oposição. Isto é, os partidos de oposição colocam seus interesses domésticos antes dos interesses do bem comum do país. Esse problema é um dos defeitos da democracia liberal que tem se mostrado resistente a qualquer tipo de tratamento e tem prejudicado, em graus variados, os negócios políticos dos diversos países.
No Brasil, as coisas não poderiam ser diferentes. Por aqui também a oposição está perdida na busca da realização de seus interesses os mais miúdos, deixando os interesses do bem comum à deriva. À oposição não interessa que as coisas dêem certo no país, para a população, para o bem comum. Interessa, sobretudo, que os seus interesses partidários sejam atendidos.
Só isso pode explicar a obsessão de um Álvaro Dias em sua insana campanha contra o ex-senador Mercadante, no caso do suposto dossiê contra Serra. É claro que isso não envolve apenas Álvaro Dias, mas todo o PSDB e a oposição. A oposição alimenta todo um ressentimento contra o sucesso do governo Lula e quer, por todos os meios, inclusive os da mentira e manipulação de versões, prejudicar o governo, não se importando se essa postura de crítica incondicional prejudica a população ou o andamento de interesses da população.
De sorte que a oposição no Brasil atual não cumpre com a sua obrigação política e mais prejudica que ajuda. E isso é uma pena, pois muita coisa poderia estar sendo feita pelo país se existisse antes de tudo um espírito de compreensão real do que é interesse público e interesse particular e uma ação honesta no sentido de buscar o bem comum.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Um caso claro de injustiça contra a parte mais fraca.

O caso do abuso de poder contra uma ex-escrivã da Polícia paulista, a qual foi agarrada e teve suas roupas arrancadas, por suspeita de cobrança de propina, por policiais em uma delegacia de polícia clama aos céus como um abuso abominável. Constitui prática do mais baixo calão e merecia uma punição exemplar. Tanto se trata de um absurdo abuso de poder que os meliantes até gravaram as cenas, na certeza de que jamais seriam punidos. E para a consternação da parte da sociedade que ainda é capaz de se indignar com atos indignos e de maus profissionais – ou deveríamos chamar de amadores – parece que tudo vai ficar por isso mesmo. A Justiça de São Paulo decidiu não reabrir o caso alegando que não há fato novo no caso. Ora, meu Deus! O fato novo é que estavam escondendo o fato dos olhos do país e a solução do caso estava sendo levada para debaixo do tapete para tudo ficar do mesmo jeito. A divulgação do crime deveria bastar para a reabertura do caso e para o encaminhamento da punição dos culpados.
Ora. Agarrar uma pessoa qualquer dentro de uma delegacia, sob qualquer pretexto, e arrancar-lhe a roupa é um crime pois denota abuso de poder. Por se tratar de uma mulher, o abuso torna-se ainda mais covarde.
A Constituição brasileira proíbe a prática da tortura e, portanto, os praticantes dessa modalidade de crime, quando pegos com a mão na massa, precisam ser presos e julgados. É claro que a esses criminosos também deve ser assegurado amplo direito de defesa.
Se a ex-escrivã tivesse cometido algum crime, mesmo assim, não se justificaria o uso de tortura contra ela. Assim, a decisão judicial que não quis reabrir o caso está completamente equivocada e deve ser reformada, sob pena de a justiça paulista ficar desacreditada. Só desacreditada, não, mas também tornar-se suspeita de proteção a criminosos e, ainda, uma justiça sem nenhuma sensibilidade para com os pequenos. Uma justiça assim é apenas a vontade do mais forte e deixa de merecer o nome.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Argumentos

Engraçado o argumento de alguns dos ministros do STF, segundo o qual ninguém está acima da lei, e portanto, ninguém e nem nenhum ato de qualquer autoridade pode ser sequestrado da apreciação do judiciário. O argumento está correto. O mote do argumento era o de que a pertinência do ato do ex-presidente Lula de não extraditar Battisti deveria ser apreciado pelo Supremo, sem o que, tal ato ficaria acima da lei. Por que engraçado? Porque se validado todos os atos da presidência da República deveriam ser apreciados pelo Supremo. Então, se um governo de qualquer país se sentisse prejudicado por um ato da presidência da República ou se um cidadão sentisse o mesmo em relação ao Poder Executivo ele poderia ingressar no Supremo para se ressarcir do aventado prejuízo. Ora, nesse caso, seria melhor dispensar o Poder Executivo, o qual tornar-se-ia supérfluo. A improcedência do argumento se revela na celeuma que causa sem que traga nenhuma luz para o caso. É claro que a presidência da República não está acima da lei. Nem fica bem o Supremo desejar essa circunstância para si. Também soa ridículo a evocação de exemplos da rainha da Inglaterra, que tem de pedir licença para entrar em Londres, como exemplo de constitucionalidade. O Brasil fica no Hemisfério Sul e conversas aristocráticas ficam melhor na sua privacidade original. Trazida a público só revela o quanto certas pessoas vivem longe da realidade deste país.

Uma decisão que honra a soberania

O caso Cesare Battisti termina de maneira digna para o Brasil. Juridicamente, o STF julgou que a extradição do ex-ativista italiano podia ser autorizada, e o fez, mas deixou a decisão nas mãos do presidente da República, por se tratar de ato atinente às relações exteriores do país. No final do ano passado – 2010 – o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu não extraditar o italiano e justificou o seu ato afirmado que tinha fundados receios de que Battisti poderia ser perseguido na Itália. Esse ponto de vista foi extraído da própria história do ex-ativista, o qual foi condenado à prisão perpétua à revelia e em julgamento com base em depoimentos de delação premiada. Agora, no dia 08 de junho de 2011, o STF, acionado mais uma vez pelo governo italiano, que recorreu da decisão do ex-presidente Lula, decidiu não acatar o recurso do governo italiano e libertou Battisti.
O caso tem gerado manifestações apaixonadas por parte do governo italiano; um tratamento ao sabor dos ventos pela imprensa nativa – antes do julgamento a imprensa tratava Battisti como terrorista, a exemplo da imprensa italiana e agora, após o julgamento, essa mesma imprensa trata o italiano como ex-ativista – tem gerado também um ódio enorme por parte da direita brasileira e vasta polêmica em torno do julgamento italiano de Battisti.  Resta, no entanto, a ponderação de que tecnicamente é muito difícil tomar uma posição indubitável no caso. Battisti foi um ativista político, nos anos em que a luta armada grassava na Itália e em vários outros países no mundo: tempos da Guerra Fria. Não aprece haver provas contundentes e não provas de interpretação sobre a participação de Battisti nos crimes de que é acusado. Se tais provas existissem, certamente, que desde o primeiro instante ele não teria angariado defensores através de países como a França, Brasil e Itália. E ninguém pode ser condenado com base em indícios apenas. Uma condenação exige provas. Por outro lado, uma situação de luta política torna a situação ambígua. Assim, havendo dúvidas é melhor não condenar.
O ex-presidente Lula honrou o Brasil com a robusta decisão de não extraditar Battisti. Fez isso com coragem e denodo. Não se acovardou diante da polêmica e as palavras muitas vezes ofensivas das iradas autoridades italianas não o intimidaram. A história saberá fazer justiça ao ex-presidente.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Espaço público? Onde?

Primeiro a Câmara dos Vereadores da cidade de Belo Horizonte; agora a Prefeitura da cidade, na pessoa de Márcio Lacerda também se entrega à orgia nefasta da falta de pudor com o coisa pública. É até supérfluo ensaiar qualquer tipo de protesto. Essa história de vender uma parte da rua - espaço público indubitável - é de uma falta de pudor cívico e político que raia o surrealismo. É inacreditável que essas "autoridades" tenham a falta de vergonha de aparecerem em público depois dessa ação. Eles deveria ficar com vergonha de tamanho disparate. Mas é em vão que se diz isso. Essa gente sequer fica sentida. Eles fazem isso como se troca de roupa. Espaço público, para eles, é tão importante como o papel higiênico que usam.
Daqui a pouco as ruas da cidade serão de conglomerados ou grupos econômicos que passarão a cobrar pedágio de quem se aventurar a andar na rua. Certa ruas serão "deles" e "nós" seremos enxotados, com o beneplácito da Câmara e da Prefeitura. Que tempos horríveis são estes!

terça-feira, 17 de maio de 2011

Mais ainda!

Com o passar do tempo fica mais claro que os EUA cometeram diversos crimes por ocasião do ataque realizado no Paquistão contra Bin Laden. Os EUA não têm o direito de invadir qualquer país com que intento for, para realizar qualquer tipo de ação. Isso é violação de soberania. Ao violar esse princípio, os EUA abriram um perigoso precedente: se amanhã alguma força invadir o território americana e ali realizar um assassinato, essa força estaria agindo sob a cobertura das mesmas razões que as dos EUA no Paquistão.
Os EUA também assassinaram um homem desarmado. Um homem suspeito de atos criminosos. Mas suspeito. O respeito por essa simples condição, a de suspeito e não prontamente de criminoso, faz a diferença entre regimes terroristas e regimes democráticos. Não existe, até hoje, uma prova cabal e indubitável da participação de Bin Laden no episódio das torres gêmeas. Essa pressa em condenar e a ação de justiceiros ficam muito bem em forças terroristas, mas destoam em nações que se dizem democráticas. E justiça com as próprias mãos, é barbárie. Assim, Os EUA mais uma vez decepcionam e dão margem a que o sentimento anti-americano fique mais forte no mundo. As autoridades norte-americanas também não titubeiam em mentir de forma descabelada sempre que precisam justificar seus crimes. Bush mentiu sobre o Iraque e fez a guerra, que matou milhões de pessoas, crianças, velhos, moços, mulheres... e destruiu uma grande parte do país. O pior, no entanto, foi a disseminação do ódio racial, da ação intempestiva contra o diferente, a naturalização da tortura, o comércio de informações em troca de favores e dinheiro. Todos esses crimes são varridos para debaixo do tapete, porque os EUA têm a maior força militar do planeta. Ora, quando a força se sobrepõe ao direito, digam o que quiserem, sejam realistas ou visionários, não tem outra maneira de qualificar a situação: temos então a barbárie, o estado de exceção, o regime discricionário, o totalitarismo.... O futuro do mundo está em constante gestação e o nosso tempo parece grávido de monstros...

terça-feira, 3 de maio de 2011

Elogio do Assassinato.

Os líderes norte-americanos perderam de vez o pouco de pudor que ainda tinham. Logo depois da Segunda Guerra Mundial, os líderes aliados queriam fuzilar sumariamente o alto comando do exército alemão, considerado composto por criminosos de guerra. Entretanto, os EUA fizeram um grande esforço para levar esses criminosos a julgamento. O ritual do julgamento era uma exigência de princípio dos valores democráticos básicos. Não se pode pretender defender a democracia desrespeitando esses princípios. Porém, agora, Os EUA fazem questão de se mostrarem ao mundo como os atores que promoveram o assassinato de uma pessoa, possivelmente, merecedor de todo tipo de censura. Porém, a apologia do assassinato feito pelos EUA jogam os princípios da democracia por terra e abre um precedente extremamente perigoso: a partir de agora, soldados dos EUA poderão invadir uma casa qualquer e metralhar todos que estiverem ali, com base em um suposto direito de defesa, de vingança ou de reparar uma ofensa. É claro que a procura e possível prisão de Bin Laden era uma ação legítima. É claro que ninguém, em sã consciência, poderia condenar uma ação que visasse prender ou tirar de circulação uma pessoa com um passado tão tenebroso como o de Bin Laden. Entretanto, o modo como os EUA agiram só faz com eles sejam equiparados aos piores terroristas. Assistir a um assassinato é coisa ou de psicopata ou de sádico. Psicopatas e sádicos eram abundantes nas SS e nas organizações nazistas em geral. A morte de Bin Laden, na circunstância em que ocorreu, mostra que psicopatas e sádicos nunca foram privilégio do Nazismo.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Uma árvore.

Um galho seco estalou na tarde quente. O ar estava parado. Tudo tinha um certo ar de cansaço. O sol pintava as coisas com uma tinha hesitante naquele dia quente. Um vapor de brumas subia do chão inclemente. Pedras sem misericórdia pendiam das encostas. Uma mulher descia a colina, devagar e pensativa. Mas naquela hora nada havia para ser pensado. Só havia sentidos e calor. Pavor.
La na distância infinda do horizonte, um relâmpago incendeia o céu. A tarde não tardará a se transformar em noite. Tudo ficará coberto pela sombra rotunda da escuridão. Relâmpagos... De repente, a chuva desaba. Um vento frio envolve as coisas e a alma do vivente se sente aliviada e ao mesmo tempo atemorizada pela fúria da tempestade. Nesse momento mágico do auge da tormenta, tudo fica em suspenso. Todas  as coisas tornam-se provisórias. A vida fica por um fio. Mas, aos poucos, a confiança vai voltando. A chuva vai ficando mais mansa. A fúria é acalmada. A árvore tombada testemunha a tormenta e todos testemunham a árvore caída, como um homem abatido ou um animal ferido de morte. Ela vai ficar ali. Em seus galhos, não haverá mais euforia de passaredos. Tudo ficou em silêncio. A árvore não é mais.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Monstro?

Há algo de obscuro no fazer cotidiano de todos os homens. Maltratar um menino feio e tímido... Rir do aleijão alheio... Fazer gozação do tombo do outro.
Havia um homem que todos os dias fechava o pequeno portão de entrada de sua casa. E todos os dias alguém passava por ali e jogava o portão no chão. Mas todos os dias o homem fechava o portão. Antes, todos os dias, ele tinha de pegar o portão no chão, erguê-lo e colocá-lo no lugar. Dava trabalho, mas ao ver o pequeno portão  no lugar, ele se sentia vingado e sereno. Foi assim durante anos. Mas sempre tem um dia que a rotina chega a um limite. O homem acordou com o barulho do portão ser jogado ao chão. Ele pensou: Nossa, não estão nem esperando mais eu sair de casa. Nesse dia ele ficou em casa. Nem se levantou. À tardinha, ergueu o pequeno portão e o colocou no lugar. Sentou-se ao lado do portão e se encostou no muro. Dormiu ali. Ou então, passou a noite acordado ali. De manhã, passou pela rua um rapaz assobiando. Parou em frente ao portão. Ficou ali um tempo e seguiu seu caminho. Meia hora depois, um vulto se aproximou do portão. Agarrou-o e jogou-o ao chão, com um estrondo. O homem se levantou e olhou para o vulto que hesitava entre correr e ficar ali, com ar de estúpido. Então ele reconheceu o seu vizinho de anos a fio. O homem estava com um revólver no bolso. Ele pegou o revólver. Olhou para o seu vizinho, estúpido, que mais parecia um rato que uma pessoa. Ele apontou a arma para o seu vizinho, que começou a tremer. Ele disse ao vizinho: Pegue o portão. O vizinho pegou. O homem disse: Agora ande e não olhe para trás. O vizinho bufava e seus passos faziam um barulho enorme no cascalho da rua. Os dois foram andando para a praia. Ao pisar na água, o vizinho balbuciou: Aqui tá bom? O homem levantou a voz: Não olhe para trás. Continue andando.
Os dois nunca mais foram vistos.

domingo, 3 de abril de 2011

Uma tarde no hospital

Estava acompanhando uma pessoa na porta de um hospital em Belo Horizonte. Fiquei sabendo da seguinte história, que foi livremente contada no hall de entrada do hospital, por médicos, filhos do paciente e funcionários: um senhor de cerca de 70 anos foi internado para fazer um procedimento na bexiga. O paciente foi anestesiado e quando o médico ia iniciar o procedimento percebeu que o instrumento necessário e principal para tanto estava quebrado. Singelamente, o médico suspendeu o procedimento, chamou os filhos do paciente e lhes explicou que não seria possível fazer a cirurgia e que eles deveriam esperar que a anestesia passasse e levassem o paciente para casa.
Isso aconteceu assim e assim ficou. Eu vi o paciente ser levado para casa. É preciso perguntar: como acontecimentos como esse são possíveis? Como é que um paciente pode ser preparado para uma cirurgia sem que a estrutura do hospital esteja preparada para isso?
Estamos a anos luz do respeito à cidadania...

terça-feira, 29 de março de 2011

Um grande homem... Um grande exemplo!

José Alencar, ex-vice presidente da República, morreu, na tarde de 29 de março de 2011. O mundo fica um pouco menor. A alegria do sorriso de Alencar também apaga-se e torna-se memória, lembrança. Lá se foi o mineiro que com serenidade participou de um momento muito delicado da história do Brasil. Um momento em que uma raivosa direita extremada queria golpear as instituições porque não conseguia tolerar a figura de Lula. Não apenas a figura de Lula, mas a figura de um Lula vitorioso e de sucesso. Alencar navegou nessas águas traiçoeiras com maestria e serenidade. A direita raivosa não gosta de se mostrar. Ela sempre se esconde em certas revistas que se dizem isentas mas que fazem o jogo sujo da traição.
Todos achavam Alencar um homem de direita. E de fato ele o era, mas de uma direita honesta, que mostrava a cara, defendia seus pontos de vista e era capaz de dialogar e até de fazer alianças que pudessem beneficiar o país.
Além, disso, Alencar foi um herói em sua luta contra a doença. Herói porque tinha sempre um sorriso para dissipar a sombra do terror da morte. Parece que ele desdenhava da morte. E ele saiu vitorioso. Hoje, ele se tornou imortal! Fique com Deus!

quarta-feira, 23 de março de 2011

Silêncios!

Esse final de março está sendo particularmente amargo. O terremoto no Japão seguido do tsunami deixou o mundo com um nó na garganta. O que dizer diante da tragédia crua? Não estando lá, como testemunha ocular, o que dizer de tudo aquilo? É incompreensível! Após o ruído ensurdecedor do terremoto e da fúria do mar, apenas o silêncio, pois nada mais há a dizer!
Quando vi a notícia da morte do urso Knut, fiquei imaginando o seu cercado no zoológico de Berlin, o suave ruido da água, o sussurrar do vento nas folhas...De repente, a ausência daquele animal tão inocente encheu aquele recinto de um ensurdecedor silêncio. A ausência de Knut é como uma sombra. O recinto agora está irremediavelmente vazio. E esse vazio jamais será preenchido.
Agora nova ausência, novo silêncio. O mundo está menor e mais triste. Morreu Elizabeth Taylor. O mundo ficou para sempre desfigurado. Ficou silencioso.
Tenho a sensação de que a cada dia uma figura importante do mundo de cada um desaparece, enchendo a realidade de silêncio e de sombras!
Mas se a caixinha de lembranças está quase cheia, há uma outra caixa, misteriosa, surpreendente, que nos prega peças a todo instante: é a caixa do novo, da natalidade. Ela está sempre grávida de novidades!

terça-feira, 22 de março de 2011

Por que só a Líbia?

Os ataques que estão sendo feitos na Líbia significam aquilo de mais abjeto há na política internacional nesse tempo presente. A lógica ali é a mesma que presidiu os ataques ao Iraque. E os mesmos atores aparecem em cena para dizer as mesmas palavras, as mesmas invencionices de sempre, a mesma arrogância e o mesmo ar de sincero investimento no bom andamento dos negócios do mundo. Vejam: se de fato USA, França, Reino Unido, Itália e Canadá estivessem preocupados com os civis líbios, eles não proporiam gastar a fortuna que estão gastando com armas para uma aventura como esta, de resultados incertos e improváveis. E mais: existem civis em perigo no Sudão, e em muitas partes da África; há civis em perigo no Oriente médio (Palestina, Jordânia, Arábia Saudita, Bahrein, dentre outros). Por que essa fixação na Líbia, como se apenas lá os civis estivessem em perigo? E os protestos populares têm sido violentamente reprimidos. Kadhafi está em ótima companhia, com  Mubarak e outras figuras de destaque da região. Por que só a Líbia?

Quanto vale um líbio?

Quanto vale um líbio andando numa rua de Londres? Ou numa rua de Nova Iorque? Ou em Paris ou Roma? No entanto, vejam que maravilha! De repente, os civis líbios passaram a valer uma fortuna no mercado internacional. Para proteger essas valiosas criaturas, juntaram-se França, USA, Reino Unido, Itália e, pasmem, o Canadá. Todos esses países estão explodindo milhões de dólares em solo e ar líbios e tudo - dizem eles com a boca cheia - para proteger os civis líbios do ditador Kadhafi. Engraçado que os civis do Iêmen parecem não valer sequer uma bomba da coalizão que quer derrubar Kadhafi. É isso mesmo. Agora a mercadoria "civis" são cotados a bombas. Quantas bombas foram jogadas contra Tripolí? Isso dá a dimensão do valor dos civis líbios. Se a coalizão não gastou nenhuma bomba ainda no Iêmen é porque lá os civis não valem tanto!
A verdade é que a hipocrisia já ultrapassou qualquer concepção de grotesco. Seria mais fácil e simples se essa guerra fosse feita como guerra de conquista. A Líbia tem petróleo farto. Ora, até quando esse fascistóide do Kadhafi vai ficar ali atrapalhando as negociações dos grandes desse mundo em torno do petróleo? Será que o Kadhafi não vê que o Irã será um osso muito mais duro de roer e que o Ocidente terá de esperar por uma oportunidade no futuro, quando os aiatolás baixarem a guarda?
Bem, o negócio é aproveitar o vento e varrer Kadhafi da Líbia e em seguida tomar banho de petróleo nos poços líbios. Os líbios? Ora os líbios! Eles que esperem por Alháh.
Eu já vi embrólios bem elaborados. Mas esse da Líbia, façam-me o favor! A França não vê a hora de tomar posse dos seus poços que perderam na guerra da Argélia. Afinal, a Líbia fica só um pouco mais para lá. Mas o petróleo é o mesmo!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Reprise!

Já são tantas que não parece provável que em algum momento isso vá se resolver. Em São Paulo, um grupo de policiais e até de delegados resolvem, numa ação covarde, tirar a roupa de uma mulher, sob o pretexto de que ela escondia na roupa uma propina. Há formas legais de se revistar uma pessoa ou uma mulher. O que não é razoável e nem ação de gente civilizada foi o que o grupo fez, de forma truculenta e covarde. Atacar mulheres indefesas é fácil demais essa corja deveria é ir direto para o cárcere. No entanto, a ação selvagem da corja foi considerada legal e o inquérito foi arquivado! Reprise já vista em várias outras ocasiões.
Em Minas, em BH, a polícia mata pessoas sem passagem pela polícia, isto é, pessoas, até segunda ordem, inocentes e os assassinos são afastados de suas atividades e vão trabalhar em atividades burocráticas na polícia, até que todo mundo esqueça o ocorrido e eles possam voltar à lide diária. Reprise também já vista em muitas e muitas outras ocasiões. Será que as pessoas que morreram morreram mesmo ou será que isso é invenção da comunidade? Não ocorreu a ninguém perguntar aos assassinos por que eles atiraram naquelas pessoas! Ou será que os tiros foram uma armação da comunidade?
Reprise, reprise....

domingo, 2 de janeiro de 2011

...Me perdoem os crentes!

Ser reeleito governador de Minas Gerais para figurar como vitrine do Aécio, me perdoem os crentes, mas acho que é pequenez hiperbólica! O senhor Anastasia sempre foi uma sombra do Aécio, às vezes, muito adequada e conveniente, às vezes, crucial. Mas se contentar em ser vitrine, isso ultrapassa qualquer concepção de grotesco. Onde Minas foi parar!