sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Pressupostos............


James Rachels, um filósofo norte-americano, defende o conceito de “pressuposto dominante”, como operante na conduta dos homens. Rachels conta uma experiência feita pela equipe do doutor Dr. David Rosenham, professor de psicologia e direito na Universidade de Stanford. A equipe de Rosenham conseguiu fazer entrar em um hospital psiquiátrico um grupo de investigadores, todos em condições normais de saúde, mas passando por pacientes com problemas mentais. O grupo foi admitido e cada qual recebeu uma hipótese diagnóstica. Os indivíduos do grupo comportaram-se normalmente no hospital, sem que nenhum deles tentassem fingir um estado de loucura. O resultado dessa experiência foi que os médicos do hospital jamais desconfiaram que aqueles indivíduos não eram doentes mentais. Pelo contrário, todo o comportamento dos indivíduos do grupo era sempre interpretado como comprobatório do diagnóstico de cada um. O que pode ser deduzido da experiência, de acordo com Rachels, é que uma vez estabelecido o “pressuposto dominante”, o comportamento dos indivíduos, fosse ele qual fosse, não faria mais diferença. O pressuposto dominante funciona como um farol que direciona a percepção. A interpretação dos fatos se dá com base na hipótese determinada pelo pressuposto dominante.
O que ocorreu com o julgamento do chamado mensalão foi exatamente uma manifestação da aplicação de um pressuposto dominante, estabelecido pela mídia e aceita em sua totalidade pelos juízes do STF, ávidos por notoriedade e seduzidos pelo brilho dos holofotes. O STF vinha há muito sofrendo com as críticas de que ninguém ali era condenado. De repente, o STF viu na aliança com uma certa mídia – um grupo seleto de grandes famílias que dominam o mercado de comunicação no Brasil – uma oportunidade de modificar a sua imagem perante a opinião pública. A oportunidade se ofereceu com um dom divino, no momento em que se tornou possível investir contra um partido de esquerda que estava fazendo sucesso como primeiro governo na historia do país que deixou a retórica e, de fato, voltou suas atenções e investimentos para as camadas mais pobres do país. Golpear esse partido era preciso. Eles queriam pegar o Lula, mas covardes como sempre, tiveram medo de sua popularidade. Como compensação pegaram o PT. E o pegaram pela imposição de um pressuposto dominante de que houve um determinado crime que precisava ser punido. Vejam bem: se houve uma prática ilícita, ela deveria ser investigada, os dados levantados e aplicada as determinações legais da estrutura jurídica do país. O que houve foi uma condenação prévia e o estabelecimento da prática de ilícitos também por pressuposição, não dando aos réus a menor possibilidade de estabelecer o contraditório.
O STF passou de tribunal que não condena ninguém, para tribunal de exceção, que condena quem for da esquerda. Sofrível esse país!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Pena, que pena...

Direitos humanos no Brasil nunca foram percebidos de maneira adequada. A população sempre considerou direitos humanos como defesa de crimes e de bandidos. Isto é uma herança da nossa miséria cultural, de um sistema de educação que tende para o treinamento e não para a formação humana do cidadão e das desigualdades sociais, que geram deformações de toda ordem na sociedade. Uma prova do desprezo pelos direitos humanos até por instituições consagradas à defesa do direito é a sentença dada ao réu do caso Eloá. Um julgamento viciado, preconceituoso e baseado em dados artificiais, descabidos e num rigor desmedido. Lindemberg está pagando pelo histórico de impunidade que grassa nesse país, de uma forma deformada e sem cabimento. A acusação do caso  Lindemberg apresentou a tese de que o réu tinha a intenção de matar a namorada desde o início dos eventos que culminaram em sua morte. Sabe-se lá de onde essa promotora tirou essa tese, pois se ele tonha a intenção tão firme assim de matar a namorada porque ele não o fez na hora que chegou ao apartamento? E porque não o fez depois, pois o que não faltou a ele naqueles dias foram oportunidades para tanto. Vejamos o caso do jornalista Pimenta, que também matou a namorada. Ele, o Pimenta, de posse de uma arma, procurou a namorada e disparou contra ela, sem titubear. Isso é intenção de matar. Ele não conversou, não procurou uma alternativa. Disparou logo. Lindemberg não agiu assim e, portanto, a tese de que ele tinha intenção de matar é fantasiosa, artificial e desenvolvida com o propósito de prejudicar o réu. A promotora, no caso, parece ter ódio do réu, pois faz questão que ele fique preso por, ao menos, 30 anos.
Há outros pontos no julgamento que revelam um ódio incontido contra o réu, o qual, claro, merecia uma punição, mas uma punição justa, do tamanho do crime cometido. O rigor da juíza na sentença também revela uma preocupação exagerada em atender a supostos reclamos da sociedade expressos na mídia. Ora, se a mídia estivesse assim tão preocupada com a justiça, ela mostraria e gritaria mais por uma polícia menos violenta, por um rigor maior com os criminosos ricos, com criminosos promotores entre outras mazelas do país. No caso Lindemberg o que fica patente, mais uma vez, é que no Brasil direitos humanos são desprezados  e que pobre sempre é condenado, mesmo antes do julgamento. No caso Lindemberg o julgamento foi supérfluo. Ele já estava condenado antes. O teatro apenas consagrou o que já estava decidido principalmente pela mídia, que agiu de forma leviana no caso e não pagou nada por isso.
Outro episódio lamentável no caso: a imperícia da polícia foi, ao que parece, foi promovida e não punida. Todo mundo que participou daquela enrascada está hoje muito bem colocado e não sofreu sequer uma advertência.
A perícia, naqueles casos nos quais há a participação da polícia, como no caso Lindemberg, deveria ser independente. A própria polícia fazendo perícia de si mesmo é muito suspeito. Quem atirou em Eloá? Pode ter sido Lindemberg. Mas pode também ter sido, o tido, dado por uma outra pessoa. Na confusão que foi, isso poderia perfeitamente ter acontecido. Uma perícia independente poria fim a essas dúvidas. Do contrário, elas persistem.
Por último, vale lembrar que avaliações subjetivas - como, por exemplo - eu não vi arrependimento nos olhos dele, ou, ele foi frio em seu depoimento - não deveriam ser levadas em conta, pois são por demais parciais. Avaliar intenções só é possível de forma indireta, pelo modo de agir da pessoa. Sem a ação, falar de intenções é arte de advinhação. Também é preciso desconfiar de depoimentos muito certos dados sobre uma hora de extrema tensão. Quem ouviu o que no auge da ação de invasão do apartamento?
Acho que Lindemberg merecia uma punição exemplar. Afinal, ele foi o responsável por iniciar os eventos em apreço. No entanto, o que ele recebeu do tribunal do juri foi um descalabro de sentença, que revela ódio e preconceito.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Filhote


Já era quase noite. O céu ainda refletia um pouco da luz solar. Mas no quintal de casa, cantos escuros escondiam os detalhes das coisas. Vi algo se mexer, num canto, perto da piscina. Será que vi mesmo algo se mexer ou foi apenas impressão? Fiquei pensando e olhando para o canto. Tive a impressão, novamente, de que algo se mexia ali. E se for um sapo? Entrei em casa em busca de uma lanterna. Voltei ao quintal e joguei  o foco luminoso da lanterna no canto escuro perto da piscina. Para minha surpresa, alguma coisa passou correndo ao meu lado. Na hora pensei que fosse um rato. Corri atrás do vulto com a lanterna e vi de que se tratava: um filhote de passarinho. Bico e asas. Logo vi que era filhote de pardal. Consegui pegá-lo. Ele esperneou com força. Bem, ele está bem forte e está quentinho. Deve ter caído do ninho ainda há pouco. E não deu outra: no muro, uns três metros à direita, vi um pardal piando forte um pio de advertência. Parecia que estava ralhando comigo por pegar o seu filhote. Hesitei um pouco, mas me rendi ao desespero daquela mãe – mãe é mãe, afinal. Coloquei o filhote no chão e ele correu em direção ao muro, onde estava, creio, a sua mãe. Ela continuou ralhando comigo. Resolvi me afastar e entrei em casa. Fui até uma janela e de lá fiquei observando mãe e filho.
A mãe pardal continuou no alto do muro. Parou de piar forte e passou a um trinado mais suave. O filhote ficou no chão, parado. Nisso, a mãe pardal voou para o telhado da casa. Então, lá deve ser o ninho da família, pensei. Mas e agora? A mãe voou para o ninho, mas o filhote não vai conseguir voar até lá. Se eu tivesse uma escada alta, poderia devolver o fujão ao seu ninho. Mas a minha escada era pequena para esta tarefa. Esperei mais um tempo e a mãe pardal não voltava e nem dava ar se sua graça. O pequeno filhote continuava lá, ao pé do muro, no escuro.
Pensei logo em um gato, furtivo, elegantemente maldoso, que de um salto abocanha aquela criaturinha que nem sequer sabe ainda voar. Não, eu não posso deixar que isso aconteça! De jeito nenhum! Um pouco antes, eu estava pensando na possibilidade de deixar a Natureza seguir o seu curso. Quantas vezes isso deve ocorrer por dia: filhote cai do ninho e vai direto para a boca do gato. Foi quando pensei na boca do gato e resolvi contrariar a Natureza. Fui até o muro e peguei o filhote. Ele esperneava como podia. Tentei não apertá-lo e ele foi se acalmando, se acalmando até que ficou quieto. Procurei uma seringa perdida em uma gaveta da cozinha e dei água para o filhote. Ele bebeu com avidez. Fiquei animado. Misturei fubá com um pouco de água e com um palito fui colocando, aos poucos, a mistura ao alcance do bico do filhote. Ele comeu um pouco, mas só um pouco e depois se recusou a abrir o bico. Não insisti. Fui até o meu vizinho e no quintal dele peguei umas palhas de milho e com elas improvisei um ninho. Minha mulher arrumou uma sacola de papelão. No fundo desta coloquei o ninho e dentro dele o filhote. Ele se aconchegou e pareceu até dormir.
Fiquei então descansado. No outro dia cedo, assim que a mãe pardal começou a chamar, o filhote deu um jeito de sair do ninho improvisado e foi se postar na porta da cozinha, piando também bem alto. Assim que a porta foi aberta, ele saiu meio voando e meio correndo. Foi ficar junto de sua mãe. Agora ele estava quase voando mesmo. Conseguia fazer uns rasantes bem arriscados, mas foi bem sucedido. Durante o dia, o filhote aparecia correndo no quintal e depois sumia um pouco. Sua mãe estava sempre por perto. De vez em quando, eu ia até o quintal e o procurava. Às vezes não o achava. Às vezes o achava e em lugares os mais diversos. Encontrei-o debaixo do carro, na garagem. Depois estava perto da piscina.
Agora mesmo, já quase noite, encontrei-o com sua mãe, no alto do muro. Era ele mesmo. Sua mãe voou. Ele ficou ali, hesitando. Procurei não incomodá-los. Quando voltei para ver onde estava o meu filhote, não o vi mais. A noite a tudo cobria com o seu véu escuro.

A Vida de cada dia

Ontem uma deusa, ou um deus. Hoje, pedaço orgânico de um corpo que foi um dia vivo. A vida é um mistério sem fim. Quando viva, a pessoa faz planos, projetos, participa de historias e de empreendimentos. Uma pessoa viva te faz rir, chorar, te dá prazer, pode lhe trazer dor.... Uma pessoa viva é uma potência que pode transformar um pouco de cisco em uma realização sublime ou fazer de uma solidão uma vida cheia de satisfação. No entanto, quando a pessoa parte deste mundo, fica apenas o silêncio. Um silêncio escuro e pesado, como um manto de chumbo. Um silêncio que incomoda e não nos deixa dormir, não nos deixa viver em paz. Um silêncio que grita o tempo todo que ela, a pessoa, se foi. Que nunca mais terei dela qualquer notícia. Ela desapareceu? Implodiu? Está viva e vive uma vida formidável? Ela está feliz?
Depois que a pessoa vai embora, só há hipóteses. Só especulação.
No escuro, fecho os olhos. Eles jamais deixaram de chorar, desde que você se foi.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Viagem Pedagiada

Tudo teria sido evitado se eu não tivesse saído de Belo Horizonte, na sexta-feira, dia 27, com destino a Guaxupé, em Minas Gerais.Entramos na Fernão Dias. Pista dupla, muito bem sinalizada e, afora algumas intervenções dos costumeiros psicopatas de estrada - aqueles que insistem em ultrapassar em lugares proibidos, como pontes e colar na sua traseira naqueles trechos em que o trânsito fica lento ou aquele caminhoneiro que joga o caminhão na sua frente para fazer uma ultrapassagem desnecessária, apenas por exibição - afora isso, então, a viagem começou muito bem. De sorte que até próximo a Perdões, não tivemos nenhum problema. Passamos por dois postos de pedágio e pagamos em cada um o valor de R$1,40. Nesse ponto da viagem, saímos da Fernão Dias e pegamos a 265 para Nepomuceno. Em seguida, entramos na 369 e depois na 491. Passamos por Campos Gerais, Alfenas, Areado, Muzambinho e Guaxupé. Assim que saímos da Fernão Dias, acabou a pista dupla e isso ficou assim até Guaxupé. Nesse trecho, de Nepomuceno até Guaxupé, não há pedágios e em alguns pedaços a estrada está bastante acabada, sem acostamento e com muito buracos.
Bem, em Guaxupé visitei alguns familiares e foi muito bom rever toda essa gente para mim muito querida. Depois, no domingo à tarde, fomos para Arcos, também em Minas. Saímos de Guaxupé pela 265 para Guaranésia, Monte Santo, São Sebastião do Paraíso, Itaú, Passos. Depois fomos para Furnas, Piumhi, Pains e Arcos. Essa estrada é pedagiada e passamos por três postos e, em cada um, deixamos R$4,00 como pagamento. Até agora estou tentando encontrar alguma coisa na estrada que justificasse essa cobrança exorbitante. A estrada não tem pista dupla; tem poucas terceira faixa, o que obriga o viajante a longos trechos atrás de caminhões lentos; não possui postos de serviços bons. Acho um absurdo que se cobre esse preço exorbitante só para que o viajante veja a placa "Rodovia Pedagiada".
Acho que é necessário que se faça um movimento cívico para exigir preços mais justos para pedágios como esses. Não é possível que o cidadão seja obrigado a pagar um alto preço por nada. Não há nada para se cobrar ali. Alguém está se locupletando às custas do povo em geral. Por que esse privilégio para uns poucos? Não, é preciso que as pessoas se mobilizem e se recusem a pagar essa exorbitância. Vamos iniciar um protesto contra esse desmando?

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Pinheirinhos

Nossa! Pinheirinhos, para mim, lembra Natal. No entanto, na velha lógica do mundo - e do capital, do "só para nós" - mais uma vez as construtoras, os felizes empreiteiros, os homens de bem dos negócios, os endinheirados levam a melhor. É sempre assim. De repente, aparece um juiz, uma autoridade, qe inocentemente manda executar uma ordem funesta sob todos os títulos. A ação produz seus frutos indecentes e aí começa a correria. Não fui eu, não é da minha competência, eu não sabia e outras descabeladas desculpas. E quem sofre a dor de ficar na rua, perdeu alguma coisa, um pedaço de pele, até a vida.... Isso sobre sempre para quem? Parabéns, homens de bem dos negócios. Mais um bom negócio. E a vida continua.... Até a próxima .....