O caso Cesare Battisti termina de maneira digna para o Brasil. Juridicamente, o STF julgou que a extradição do ex-ativista italiano podia ser autorizada, e o fez, mas deixou a decisão nas mãos do presidente da República, por se tratar de ato atinente às relações exteriores do país. No final do ano passado – 2010 – o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu não extraditar o italiano e justificou o seu ato afirmado que tinha fundados receios de que Battisti poderia ser perseguido na Itália. Esse ponto de vista foi extraído da própria história do ex-ativista, o qual foi condenado à prisão perpétua à revelia e em julgamento com base em depoimentos de delação premiada. Agora, no dia 08 de junho de 2011, o STF, acionado mais uma vez pelo governo italiano, que recorreu da decisão do ex-presidente Lula, decidiu não acatar o recurso do governo italiano e libertou Battisti.
O caso tem gerado manifestações apaixonadas por parte do governo italiano; um tratamento ao sabor dos ventos pela imprensa nativa – antes do julgamento a imprensa tratava Battisti como terrorista, a exemplo da imprensa italiana e agora, após o julgamento, essa mesma imprensa trata o italiano como ex-ativista – tem gerado também um ódio enorme por parte da direita brasileira e vasta polêmica em torno do julgamento italiano de Battisti. Resta, no entanto, a ponderação de que tecnicamente é muito difícil tomar uma posição indubitável no caso. Battisti foi um ativista político, nos anos em que a luta armada grassava na Itália e em vários outros países no mundo: tempos da Guerra Fria. Não aprece haver provas contundentes e não provas de interpretação sobre a participação de Battisti nos crimes de que é acusado. Se tais provas existissem, certamente, que desde o primeiro instante ele não teria angariado defensores através de países como a França, Brasil e Itália. E ninguém pode ser condenado com base em indícios apenas. Uma condenação exige provas. Por outro lado, uma situação de luta política torna a situação ambígua. Assim, havendo dúvidas é melhor não condenar.
O ex-presidente Lula honrou o Brasil com a robusta decisão de não extraditar Battisti. Fez isso com coragem e denodo. Não se acovardou diante da polêmica e as palavras muitas vezes ofensivas das iradas autoridades italianas não o intimidaram. A história saberá fazer justiça ao ex-presidente.
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