terça-feira, 6 de janeiro de 2015


O Brasil
A ideia de que o pressuposto dominante acaba direcionando a percepção de muitos para bastante razoável, se atentarmos para alguns sinais desse fenômeno na história recente do Brasil. A mídia tem se esmerado em criar o pressuposto de que a corrupção é uma invenção do PT, do Lula e da Dilma. A revista Veja, de maneira criminosa, às vésperas da eleição, lançou uma edição do seu semanário afirmado que Dilma e Lula sabiam de tudo sobre a corrupção na Petrobrás. Se isso fosse verdade não se poderia negar que o governo era uma "organização criminosa" como chegou a afirmar o senhor Aécio Neves, candidato do atraso e dos conservadores da direita brasileira e derrotado no pleito. Ao agir de forma covarde e ao arrepio da boa conduta e da honestidade, a imprensa tem feito de tudo para que todo brasileiro pense que o governo Dilma é constituído de velhacos e covardes. Ainda bem que nem todos foram convencidos pela mídia, pois senão hoje nós estaríamos nas mãos dessa corja sem escrúpulos e sem ética, capazes de agir pelas costas, com mentiras e engodos.
Decepção
Bem, decepção a gente sempre tem, uma vez ou outra na vida. Porém, fica estranho, no entanto, quando a gente tem decepções todos os dias. Aí a gente pensa: alguma coisa está errada. E está mesmo. A imprensa brasileira precisa de reforma e de sangue novo. Nos últimos anos, tem aparecido toda uma gama de jornalistas com um tipo de pensamento que lembra o pensamento de baratas ou de galinhas. Eles não conseguem pensar além do próprio nariz; não conseguem enxergar um pouco mais adiante e teimam em fixar seus comentários em um bordão sempre contra a esquerda, qualquer que ela seja. Se é de esquerda ou próximo dela, então deve ser criticado. São pessoas conservadoras que não hesitam em usar a mídia em favor de suas idéias próprias como se elas fossem verdades absolutas. Difundem idéias de sua subjetividade (o que um direito de cada pessoa) mas não as divulgam como opinião, mas como se verdade fossem. Fazer isso é criminoso, senão legalmente, pelo menos moral e eticamente. São jornalistas não apenas nanicos, mas anões morais.
É o caso, por exemplo, de Augusto Nunes, apresentador do programa Roda Viva, da TV Cultura. Um jornalista com 42 anos de experiência e que tem a capacidade de dar o vexame que deu por ocasião da apresentação da entrevista com o especialista em América Latina, Peter Hakin. Num dado momento do programa, o senhor Augusto perguntou ao entrevistado como a corrupção no Brasil estaria afetando a política nacional, em comparação com os outros países da América Latina. O entrevistado então disse que ele não estava assustado com a corrupção, que para ele sempre fora um grave problema não só aqui mas na região. E Peter Hakin perguntou se o jornalista sabia qual era o lugar que o Brasil ocupava no ranking da corrupção na América Latina. O Augusto não sabia e ficou meio pasmo quando Peter disse que o Brasil era o quarto colocado e apressou-se em dizer que esse ranking precisava ser atualizado. Ou seja, para ele (Augusto) o Brasil é o país mais corrupto do mundo e ninguém pode contestar essa sua verdade “interior”, mas que ele divulga aos quatro ventos. Para terminar o programa, usando de sua prerrogativa de apresentador, usou os minutos finais para instilar um pouco de veneno na figura de Lula, contando uma anedota desagradável e sem nenhum sentido para o programa. É ou não é para ficar decepcionado.

Pobre país, dominado por uma imprensa que não tem neurônios suficientes para entender o contexto conjuntural. Não é à toa que Augusto é cria da Veja.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Volver!

Estou de volta. Não que isso signifique alguma coisa muito importante. Não. São ciscos o que se ajunta aqui. Coisas que passariam desapercebidas caso alguém não quisesse perder tempo prestando atenção em cantos esquecidos, desprezados pelas coisas importantes. Ciscos. Estes que o vento faz correr nos cantos, nas beiradas onde apenas andorinhas, de vez em quando, depositam alguma pena, em meio às penas que povoam a minha existência.
Era tarde. Na rua, barulho de motores de ônibus, carros, motos, aviões. Cães latem, parece, furiosos. O vento balança a cortina. Alguns pássaros passam pela janela, cantando. Na casa vizinha à minha, há um passarinho que canta o dia todo. Um canto cativo, de doer. A luz desmaia devagar, lambendo as fachadas dos prédios. O céu azul já começa a ficar pálido. A noite se aproxima. Meu coração vai ficando cada vez menor. Espero os sussurros da escuridão. Ela não me intimida. Sempre gostei da noite. Mas é na noite que moram os carácteres duais. Aqueles que dizem sim e fazem não. Aqueles que temem a luz. Gosto da noite porque ela traz quietude e serenidade. Na noite se pode descansar. É claro que há perigos à espreita. Há sempre olhos famintos de engodo e de malícia ali onde a sombra impera. Mas a noite tem os seus segredos benditos.
Não há luz sem sombra. Não há longe sem perto. Nem verdade sem mentira. A noite não é necessária para quem quer engendrar o mal. Este é auto-suficiente. A luz faz parte de sua obra. Não há mal sem luz.
Lá para o norte está o gelo. La para o sul está o fogo. A leste, o mar. A oeste, o verde. Vivo a soluçar!

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Pressupostos............


James Rachels, um filósofo norte-americano, defende o conceito de “pressuposto dominante”, como operante na conduta dos homens. Rachels conta uma experiência feita pela equipe do doutor Dr. David Rosenham, professor de psicologia e direito na Universidade de Stanford. A equipe de Rosenham conseguiu fazer entrar em um hospital psiquiátrico um grupo de investigadores, todos em condições normais de saúde, mas passando por pacientes com problemas mentais. O grupo foi admitido e cada qual recebeu uma hipótese diagnóstica. Os indivíduos do grupo comportaram-se normalmente no hospital, sem que nenhum deles tentassem fingir um estado de loucura. O resultado dessa experiência foi que os médicos do hospital jamais desconfiaram que aqueles indivíduos não eram doentes mentais. Pelo contrário, todo o comportamento dos indivíduos do grupo era sempre interpretado como comprobatório do diagnóstico de cada um. O que pode ser deduzido da experiência, de acordo com Rachels, é que uma vez estabelecido o “pressuposto dominante”, o comportamento dos indivíduos, fosse ele qual fosse, não faria mais diferença. O pressuposto dominante funciona como um farol que direciona a percepção. A interpretação dos fatos se dá com base na hipótese determinada pelo pressuposto dominante.
O que ocorreu com o julgamento do chamado mensalão foi exatamente uma manifestação da aplicação de um pressuposto dominante, estabelecido pela mídia e aceita em sua totalidade pelos juízes do STF, ávidos por notoriedade e seduzidos pelo brilho dos holofotes. O STF vinha há muito sofrendo com as críticas de que ninguém ali era condenado. De repente, o STF viu na aliança com uma certa mídia – um grupo seleto de grandes famílias que dominam o mercado de comunicação no Brasil – uma oportunidade de modificar a sua imagem perante a opinião pública. A oportunidade se ofereceu com um dom divino, no momento em que se tornou possível investir contra um partido de esquerda que estava fazendo sucesso como primeiro governo na historia do país que deixou a retórica e, de fato, voltou suas atenções e investimentos para as camadas mais pobres do país. Golpear esse partido era preciso. Eles queriam pegar o Lula, mas covardes como sempre, tiveram medo de sua popularidade. Como compensação pegaram o PT. E o pegaram pela imposição de um pressuposto dominante de que houve um determinado crime que precisava ser punido. Vejam bem: se houve uma prática ilícita, ela deveria ser investigada, os dados levantados e aplicada as determinações legais da estrutura jurídica do país. O que houve foi uma condenação prévia e o estabelecimento da prática de ilícitos também por pressuposição, não dando aos réus a menor possibilidade de estabelecer o contraditório.
O STF passou de tribunal que não condena ninguém, para tribunal de exceção, que condena quem for da esquerda. Sofrível esse país!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Pena, que pena...

Direitos humanos no Brasil nunca foram percebidos de maneira adequada. A população sempre considerou direitos humanos como defesa de crimes e de bandidos. Isto é uma herança da nossa miséria cultural, de um sistema de educação que tende para o treinamento e não para a formação humana do cidadão e das desigualdades sociais, que geram deformações de toda ordem na sociedade. Uma prova do desprezo pelos direitos humanos até por instituições consagradas à defesa do direito é a sentença dada ao réu do caso Eloá. Um julgamento viciado, preconceituoso e baseado em dados artificiais, descabidos e num rigor desmedido. Lindemberg está pagando pelo histórico de impunidade que grassa nesse país, de uma forma deformada e sem cabimento. A acusação do caso  Lindemberg apresentou a tese de que o réu tinha a intenção de matar a namorada desde o início dos eventos que culminaram em sua morte. Sabe-se lá de onde essa promotora tirou essa tese, pois se ele tonha a intenção tão firme assim de matar a namorada porque ele não o fez na hora que chegou ao apartamento? E porque não o fez depois, pois o que não faltou a ele naqueles dias foram oportunidades para tanto. Vejamos o caso do jornalista Pimenta, que também matou a namorada. Ele, o Pimenta, de posse de uma arma, procurou a namorada e disparou contra ela, sem titubear. Isso é intenção de matar. Ele não conversou, não procurou uma alternativa. Disparou logo. Lindemberg não agiu assim e, portanto, a tese de que ele tinha intenção de matar é fantasiosa, artificial e desenvolvida com o propósito de prejudicar o réu. A promotora, no caso, parece ter ódio do réu, pois faz questão que ele fique preso por, ao menos, 30 anos.
Há outros pontos no julgamento que revelam um ódio incontido contra o réu, o qual, claro, merecia uma punição, mas uma punição justa, do tamanho do crime cometido. O rigor da juíza na sentença também revela uma preocupação exagerada em atender a supostos reclamos da sociedade expressos na mídia. Ora, se a mídia estivesse assim tão preocupada com a justiça, ela mostraria e gritaria mais por uma polícia menos violenta, por um rigor maior com os criminosos ricos, com criminosos promotores entre outras mazelas do país. No caso Lindemberg o que fica patente, mais uma vez, é que no Brasil direitos humanos são desprezados  e que pobre sempre é condenado, mesmo antes do julgamento. No caso Lindemberg o julgamento foi supérfluo. Ele já estava condenado antes. O teatro apenas consagrou o que já estava decidido principalmente pela mídia, que agiu de forma leviana no caso e não pagou nada por isso.
Outro episódio lamentável no caso: a imperícia da polícia foi, ao que parece, foi promovida e não punida. Todo mundo que participou daquela enrascada está hoje muito bem colocado e não sofreu sequer uma advertência.
A perícia, naqueles casos nos quais há a participação da polícia, como no caso Lindemberg, deveria ser independente. A própria polícia fazendo perícia de si mesmo é muito suspeito. Quem atirou em Eloá? Pode ter sido Lindemberg. Mas pode também ter sido, o tido, dado por uma outra pessoa. Na confusão que foi, isso poderia perfeitamente ter acontecido. Uma perícia independente poria fim a essas dúvidas. Do contrário, elas persistem.
Por último, vale lembrar que avaliações subjetivas - como, por exemplo - eu não vi arrependimento nos olhos dele, ou, ele foi frio em seu depoimento - não deveriam ser levadas em conta, pois são por demais parciais. Avaliar intenções só é possível de forma indireta, pelo modo de agir da pessoa. Sem a ação, falar de intenções é arte de advinhação. Também é preciso desconfiar de depoimentos muito certos dados sobre uma hora de extrema tensão. Quem ouviu o que no auge da ação de invasão do apartamento?
Acho que Lindemberg merecia uma punição exemplar. Afinal, ele foi o responsável por iniciar os eventos em apreço. No entanto, o que ele recebeu do tribunal do juri foi um descalabro de sentença, que revela ódio e preconceito.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Filhote


Já era quase noite. O céu ainda refletia um pouco da luz solar. Mas no quintal de casa, cantos escuros escondiam os detalhes das coisas. Vi algo se mexer, num canto, perto da piscina. Será que vi mesmo algo se mexer ou foi apenas impressão? Fiquei pensando e olhando para o canto. Tive a impressão, novamente, de que algo se mexia ali. E se for um sapo? Entrei em casa em busca de uma lanterna. Voltei ao quintal e joguei  o foco luminoso da lanterna no canto escuro perto da piscina. Para minha surpresa, alguma coisa passou correndo ao meu lado. Na hora pensei que fosse um rato. Corri atrás do vulto com a lanterna e vi de que se tratava: um filhote de passarinho. Bico e asas. Logo vi que era filhote de pardal. Consegui pegá-lo. Ele esperneou com força. Bem, ele está bem forte e está quentinho. Deve ter caído do ninho ainda há pouco. E não deu outra: no muro, uns três metros à direita, vi um pardal piando forte um pio de advertência. Parecia que estava ralhando comigo por pegar o seu filhote. Hesitei um pouco, mas me rendi ao desespero daquela mãe – mãe é mãe, afinal. Coloquei o filhote no chão e ele correu em direção ao muro, onde estava, creio, a sua mãe. Ela continuou ralhando comigo. Resolvi me afastar e entrei em casa. Fui até uma janela e de lá fiquei observando mãe e filho.
A mãe pardal continuou no alto do muro. Parou de piar forte e passou a um trinado mais suave. O filhote ficou no chão, parado. Nisso, a mãe pardal voou para o telhado da casa. Então, lá deve ser o ninho da família, pensei. Mas e agora? A mãe voou para o ninho, mas o filhote não vai conseguir voar até lá. Se eu tivesse uma escada alta, poderia devolver o fujão ao seu ninho. Mas a minha escada era pequena para esta tarefa. Esperei mais um tempo e a mãe pardal não voltava e nem dava ar se sua graça. O pequeno filhote continuava lá, ao pé do muro, no escuro.
Pensei logo em um gato, furtivo, elegantemente maldoso, que de um salto abocanha aquela criaturinha que nem sequer sabe ainda voar. Não, eu não posso deixar que isso aconteça! De jeito nenhum! Um pouco antes, eu estava pensando na possibilidade de deixar a Natureza seguir o seu curso. Quantas vezes isso deve ocorrer por dia: filhote cai do ninho e vai direto para a boca do gato. Foi quando pensei na boca do gato e resolvi contrariar a Natureza. Fui até o muro e peguei o filhote. Ele esperneava como podia. Tentei não apertá-lo e ele foi se acalmando, se acalmando até que ficou quieto. Procurei uma seringa perdida em uma gaveta da cozinha e dei água para o filhote. Ele bebeu com avidez. Fiquei animado. Misturei fubá com um pouco de água e com um palito fui colocando, aos poucos, a mistura ao alcance do bico do filhote. Ele comeu um pouco, mas só um pouco e depois se recusou a abrir o bico. Não insisti. Fui até o meu vizinho e no quintal dele peguei umas palhas de milho e com elas improvisei um ninho. Minha mulher arrumou uma sacola de papelão. No fundo desta coloquei o ninho e dentro dele o filhote. Ele se aconchegou e pareceu até dormir.
Fiquei então descansado. No outro dia cedo, assim que a mãe pardal começou a chamar, o filhote deu um jeito de sair do ninho improvisado e foi se postar na porta da cozinha, piando também bem alto. Assim que a porta foi aberta, ele saiu meio voando e meio correndo. Foi ficar junto de sua mãe. Agora ele estava quase voando mesmo. Conseguia fazer uns rasantes bem arriscados, mas foi bem sucedido. Durante o dia, o filhote aparecia correndo no quintal e depois sumia um pouco. Sua mãe estava sempre por perto. De vez em quando, eu ia até o quintal e o procurava. Às vezes não o achava. Às vezes o achava e em lugares os mais diversos. Encontrei-o debaixo do carro, na garagem. Depois estava perto da piscina.
Agora mesmo, já quase noite, encontrei-o com sua mãe, no alto do muro. Era ele mesmo. Sua mãe voou. Ele ficou ali, hesitando. Procurei não incomodá-los. Quando voltei para ver onde estava o meu filhote, não o vi mais. A noite a tudo cobria com o seu véu escuro.

A Vida de cada dia

Ontem uma deusa, ou um deus. Hoje, pedaço orgânico de um corpo que foi um dia vivo. A vida é um mistério sem fim. Quando viva, a pessoa faz planos, projetos, participa de historias e de empreendimentos. Uma pessoa viva te faz rir, chorar, te dá prazer, pode lhe trazer dor.... Uma pessoa viva é uma potência que pode transformar um pouco de cisco em uma realização sublime ou fazer de uma solidão uma vida cheia de satisfação. No entanto, quando a pessoa parte deste mundo, fica apenas o silêncio. Um silêncio escuro e pesado, como um manto de chumbo. Um silêncio que incomoda e não nos deixa dormir, não nos deixa viver em paz. Um silêncio que grita o tempo todo que ela, a pessoa, se foi. Que nunca mais terei dela qualquer notícia. Ela desapareceu? Implodiu? Está viva e vive uma vida formidável? Ela está feliz?
Depois que a pessoa vai embora, só há hipóteses. Só especulação.
No escuro, fecho os olhos. Eles jamais deixaram de chorar, desde que você se foi.