sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Barbárie ou civilização

O que separa o estado de barbárie do estado civilizado não é a quantidade de maldade que pode existir num ou noutro estado. O que separa os dois estados é a submissão de todos à lei, no estado de civilização. O que marca profundamente a barbárie é o desprezo à lei. Essa é a situação para a qual não há nenhum remédio e nem nenhuma salvação.


A civilização pode cometer loucuras e muitas maldades. Porém, esses atos ou crimes são sempre de difícil consecução e exigem uma quantidade enorme de energia para serem realizados. Também precisam ser feitos na sombra, pois não recebem aprovação de ninguém. Isso garante que o criminoso, se for pego, será julgado e condenado conforme sua culpa. Mesmo que a Justiça falhe e algum culpado consiga a liberdade, esse indivíduo sempre terá sobre si o braço da lei, pronto para puni-lo. Se for o caso. È claro que isso não livra a civilização da maldade e nem do crime. A mente criminosa sempre acha uma forma de burlar a lei, mas ela faz isso sob pressão das forças da lei. A barbárie é a ausência completa da censura que procura inibir o crime. A barbárie é a conivência com a mente criminosa. Assim, não há bem maior para a civilização do que o respeito à lei.

E é com base nas considerações acima que soa de forma terrível o pedido de ex-agentes da CIA, agência de inteligência dos Estados Unidos, para que o governo pare de investigar os abusos cometidos por ele (os agentes da CIA) nos episódios recentes da agência de inteligência na luta contra os terroristas. Esse assunto é árduo e é tratado por muitos de forma apaixonada e por outros com má fé. Se para lutar contra os terroristas tivermos de nos tornar também terroristas, então, já perdemos essa luta. A barbárie já está instalada. Se a luta contra o terror só é eficiente se a lei for esquecida e algumas pessoas puderem fazer o que quiserem para conseguir confissões, talvez seja melhor aderirmos aos terroristas, pois estamos fazendo o que eles fazem: suspender qualquer consideração à lei e agir de acordo com razões duvidosas ou não, mas que só seriam válidas no estado de barbárie. Quem quer viver sob a barbárie?

Os ex-agentes da CIA argumentam que os terroristas usarão as investigações do governo para se armarem contra os agentes e estes ficarão com medo de assumir riscos para ajudar o país. Comovente a argumentação. Mas vejam: cumprir e fazer cumprir a lei não é demonstração de fraqueza; e é falacioso o argumento de defesa da pátria com a violência contra pessoas de outra pátria. Baseada em que princípio uma pátria deveria ter o privilégio de possuir pessoas autorizadas a matar para defendê-las? O argumento sequer seria válido se esses ex-agentes dissessem que agiriam ao arrepio da lei para defender a humanidade. Não se pode defender a humanidade eliminando a sua essência.

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